domingo, 25 de julho de 2010

Fala, Memória: Cine Coronel Fausto: Por que falamos tanto nele?

CINE CEL FAUSTO Desde pequeno, morando na Rua da Frente, aprendi um caminho que repetiria muitas vezes nos anos de minha meninice. Saindo da pracinha em frente ao Palacete Municipal, passava pela Rua do Meio no sentido da Rua da Saudade e, no final da Rua do Meio, à esquerda, logo depois do castelinho dos Dantas, lá estava ele, majestoso, com seus dois pavimentos e seu semblante de autoridade arquitetônica. Tinha aquele aspecto gostoso dos cines-teatro espalhados pelo interior desse Brasil. Os mais antigos ainda guardam a grafia original – Cine Theatro Central – Juiz de Fora (MG).

Todo areia-branquense de minha geração sabe que o cinema nasceu e prosperou no Cine Coronel Fausto. Sabe, também, que foi ali onde nossos pais namoraram e curtiram os filmes que encantaram plateias de todos os pontos deste pequeno e belo planeta azul. Perguntemos aos nossos parentes onde eles assistiram a filmes como Casablanca, Cidadão Kane, E o Vento Levou, Sansão e Dalila.

No início, cinema era mudo. Uma sirene tocava avisando que o filme ia começar; algum tempo depois, ela tocava novamente. E o filme parava no meio. Era um dos momentos mais esperados. No palco, tipo circo mambembe, surgia uma bandinha, tocava uma marchinha, um xote, um baião ou um maxixe, a sirene voltava a tocar e a projeção era reiniciada. O cheiro gostoso de pipoca misturava-se ao vozerio do salão. Os jovens preferiam os Chicletes Adams, que ainda hoje mantêm gosto e aroma daquela época. Os namorados não gostavam desse intervalo. É que a luz acendia, e acabava com aquele famoso escurinho (o Prof. Carlos Alberto já falou sobre isso).

Lisboa, Portugal, 2009. Entro em um cinema no Shopping das Amoreiras para assistir a um filme. Pasmem: as luzes acenderam na metade do filme, apareceu na tela a palavra INTERVALO, as pessoas ficaram conversando, outras saíram para lanchar, e cinco minutos depois o filme reiniciou. Igualzinho a Areia Branca na década de 1950. Só faltou a bandinha. Será que nós também estávamos certos?

Areia Branca, 1938. José Silvino, jovem recém-chegado de Catolé do Rocha, de dia era uma pessoa e à noite assumia outra identidade. Durante o dia trabalhava na mercearia de Jerôncio Vasconcelos, na Rua da Frente. À noite participava da bandinha que tocava no Cine Coronel Fausto, no período em que o escurinho estava abolido por cinco minutos. Não sei se Mirabô, o músico mais famoso da cidade, também participava desses eventos.

Soprando sua tuba, as bochechas superinfladas do jovem despertaram o riso de Ester, moçoila de seus vinte e poucos anos.

José Silvino é meu pai, e Ester… Preciso dizer?

· Evaldo Alves de Oliveira, areia-branquense. Médico e escritor

0 comentários:

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...

.

.

.

.

.

.
Todos os direitos - Costa Branca News - Jornalista Luciano Oliveira. Tecnologia do Blogger.

.

.

.

.

Pesquisar Notícias

Notícias por Tema

Quem sou eu

Jornalista do jornal O Mossoroense, redator do noticiário matinal “Costa Branca em Notícias”, da Rádio Costa Branca – FM 104,3 de Areia Branca (RN), onde aos domingos apresenta o programa de variedades “Domingão da 104”

Total de visualizações